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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Especial: Os 20 anos do Doce Pecado de Rosanah Fienngo

"´Um sonho´, é como Rosana define seu novo trabalho, totalmente gravado em Los Angeles (EUA). Doce Pecado é o quinto álbum da carreira de Rosana e com ele a cantora atinge a marca de 1 milhão de discos vendidos. Você vai ver agora Música e Lágrima, que promete ser o mais novo sucesso de Rosana":



Com essas palavras a apresentadora Doris Giesse anunciava, em outubro de 1990, a estreia de Música e Lágrima (Reinaldo Arias e Cláudio Rabello) no programa Fantástico (Rede Globo). Três meses depois a Avenida Paulista, importante pólo financeiro e cultural do país, amanhecia decorada por cartazes a anunciar a motoristas e transeuntes o Doce Pecado de Rosanah Fienngo. "Já nas lojas", avisava o sedutor lambe-lambe, indiscreto e politicamente incorreto. À essa altura, janeiro de 1991, Música e Lágrima confirmava a profecia de Doris Giesse e dominava as paradas de sucesso de todo o país, tornando-se o carro-chefe do álbum produzido por Ronnie Foster e lançado pela Sony Music.

Doce Pecado (foto) marcaria a interrupção da bem-sucedida parceria de Rosanah com o produtor Max Pierre, decisivo na consagração popular da intérprete após produzir os três álbuns iniciais na gravadora - os campeões de vendas Coração Selvagem (1987), Rosana Ao Vivo (1988) e Onde O Amor Me Leva (1989). Ao emplacar sucessivos hits por longos 4 anos, Rosanah Fienngo ganhou tratamento vip da Sony Music, que decidiu ser aquele ano de 1990 o momento certo para bancar o sonho da intérprete em ter um disco seu gravado nos EUA, com direto à ficha técnica recheada de nomes gringos. Afinal, além da qualidade superior de gravação que os states ofereciam na época, ela gosta de reafirmar a influência que a música norte-americana (especialmente a negra) exerceu em sua formação vocal, citando como principais ídolos nomes como Gladys Knight, Tina Turner, Janis Joplin e Aretha Franklin.

O produtor - Considerado um dos fundadores do gênero acid jazz, com álbuns clássicos do soul funk-jazz como The Two Headed Freap (1972, foto), lançado pelo prestigiado selo Blue Note, Ronnie Foster - também produtor de álbuns de Stevie Wonder, Djavan, Roberta Flack e Guilherme Arantes - recrutou para as sessões de gravação de Doce Pecado time de feras como o tecladista e percussionista Chris Cameron (colaborador fiel de George Michael e responsável pela sonoridade de álbuns do artista britânico que marcaram a música pop, como Faith e Listen Without Prejudice), o saxofonista Gerald Albright e o guitarrista Mike Thompson. Empolgado com o trabalho, Ronnie não resistiu e acabou gravando para o disco especialíssimo (e raro) dueto da inédita composição própria Somewhere - um presente para a intérprete.

ouça Somewhere - Feliz encontro entre Rosanah Fienngo e Ronnie Foster, a balada soul encerra o álbum Doce Pecado e deixa no ar a impressão de que ambos miravam o mercado internacional (credenciais eles apresentaram):



R&B - Responsável pela concepção artística de Doce Pecado, Rosanah Fienngo levou na bagagem outras nove composições inéditas de parceiros brasileiros que ajudaram-na a consolidar seu sucesso popular: Cláudio Rabello, Torcuato Mariano e a dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas (Rabello aliás, autor dos versos "como uma deusa", assina 8 das 10 letras presentes no disco - seria "pedágio" cobrado pela gravadora?). Fato é que a azeitada mistura sonora, gravada e mixada no Pacifique Studios e Bonner Music Company, resultou em álbum de irresistível apelo rhythm and blues, um dos melhores já lançados por Rosanah Fienngo que, neste trabalho, apresenta sofisticado canto lapidado sob forte influência do melhor da música negra norte-americana. Bons exemplos são as funkeadas Todos os Sentidos (Michael Sullivan e Paulo Massadas) e Gaiola de Ouro, mais o charm Oásis (ambas da dupla Torcuato Mariano e Cláudio Rabello).

Deusa do pop - Se a primeira impressão é a que fica, Doce Pecado (música de Torcuato Mariano e letra de Cláudio Rabello) revelou-se excelente cartão de visitas. Abre o álbum em vigoroso registro pop soul que permanece atual. Faz pensar sobre o rumo que a carreira de Rosanah teria tomado caso a Sony assumisse por completo a ousadia em apostar na faceta pop dançante da intérprete, sobretudo na produção de videoclipes à altura da sofisticação do álbum. O setor começava a se profissionalizar no país com o advento da MTV Brasil e o fim da mítica parada musical Globo de Ouro (Rede Globo) - da qual Rosanah sagrou-se recordista absoluta em número de apresentações durante toda a trajetória do programa, segundo ranking divulgado pelo Video Show (Rede Globo). A possível escolha da canção título Doce Pecado teria sido perfeita para consolidar o que a produção de Ronnie Foster sinalizou - um upgrade estilístico no som e imagem da já então consagrada artista popular:




deu no youtube - no verão de 1991, a cameloa do pop brasileiro faz retorno triunfal aos palcos televisivos e, de visual repaginado, apresenta o lançamento Música e Lágrima ao público do Domingão do Faustão (Rede Globo):



Novelas - Doce Pecado também reafirmou a verve romântica da intérprete - ao apresentar nova safra de poderosas baladas soul como Acasos, Questão de Detalhe e Um Arco-Íris Não Tem Cor - e manteve a tradição de Rosanah em emplacar temas nas trilhas sonoras das telenovelas brasileiras. Do álbum, a Rede Globo selecionou Riscos Do Amor (Torcuato Mariano e Cláudio Rabello) para a trama de época Salomé, inspirada no romance de Menotti del Picchia (adaptado por Sérgio Marques) e protagonizada por Patrícia Pillar. A gravação, que conta com solo do saxofonista Gerald Albright, foi citada como uma das melhores do ano pela revista especializada Bizz (Editora Abril). Já o hit Música e Lágrima reforçou a trilha sonora da mexicana Rosa Selvagem (Televisa) e tornou-se tema da protagonista vivida por Verônica Castro (foto). Em dupla com a infantil Carrossel, Rosa Selvagem ajudou o SBT a roubar preciosos pontos da audiência do horário nobre global na temporada 1991.

A trilha traria ainda inédito dueto de Rosanah Fienngo com o ídolo mexicano Emmanuel. Responsável pela edição e lançamento da compilação, a Sony Music aproveitou a popularidade da intérprete para emplacar o cantor no Brasil e produziu a versão em português do hit latino La Chica Del Humo (Mauro Malavasi e Maria Lar), vertida por Tavinho Paes para Me Tira Do Rumo, carro-chefe do álbum Vida (foto), lançado no Brasil pelo artista em 1990. Em contrapartida, Emmanuel participou do álbum gravado em espanhol por Rosanah, Por Donde El Amor Me LLeva, distribuído em toda a América Latina e parte da Europa. O dueto Amor Dividido alcançou o terceiro lugar na parada Billboard Latina em 1990 e garantiu à intérprete um verbete no site da cobiçada parada musical. Outra prova do prestígio que Rosanah desfrutava na época: ao lado de Roberto Carlos, foi a única artista brasileira a participar da convenção anual da Sony Music de 1991 em Acapulco, México.

deu no youtube 2 - Em plena divulgação do álbum Doce Pecado, Rosanah Fienngo apresenta o hit Riscos Do Amor no programa Xou da Xuxa, em 2 de novembro de 1991. A gravação, que integrou a trilha da novela das 6 Salomé (Rede Globo), conta com o auxílio luxuoso do saxofonista Gerald Albright:




deu no youtube 3 - Durante antológica participação no Domingão do Faustão (Rede Globo) em março de 1991, Rosanah Fienngo relembra o hit Vício Fatal, versão para clássico de Al Green (eternizado por Tina Turner) que virou carro-chefe do álbum Ao Vivo, lançado pela intérprete no ano de 1988 (Sony Music):




Neo sertanejo - Aplaudido pela crítica (um feito e tanto, sobretudo pelo reconhecimento vir dos que preguiçosamente subestimam a arte da intérprete), o álbum Doce Pecado confirma a máxima de Rosanah Fienngo de que sempre almeja a evolução a cada novo trabalho - até hoje ela declara não se considerar uma artista completa, que ainda tem muito a aprender.
Mas, por uma ironia do destino, no momento em que a intérprete conquista o respeito da crítica, o grande público prefere atentar-se aos passos de um certo Francisco que, após insistentemente ligar para as rádios, enfim consegue emplacar o hit É O Amor, gravado por seus filhos (e então ilustres desconhecidos) Zezé Di Camargo e Luciano.

A explosão do neo sertanejo - avalizado pelo presidente Fernando Collor que no auge de sua popularidade promoveu famosa festa na Casa da Dinda com a presença de Leandro & Leonardo, outra dupla que começava a despontar - mudaria para sempre o padrão da música romântica consumida no Brasil e, por tabela, as prioridades da gravadora Sony Music, também dona do passe dos filhos de Francisco. Após esse verdadeiro tsunami na cena musical, a crescente sofisticação do trabalho de Rosanah Fienngo na gravadora sofreria duro revés.

Se os álbuns anteriores tiveram tempo de maturação suficiente para emplacar 4 hits cada (na média a Sony manteve hiato de dois anos entre cada lançamento), Doce Pecado não desfrutou da mesma sorte. Um ano após ser lançado e a gravadora novamente colocava Rosanah Fienngo nos estúdios para preparar, às pressas, álbum mais alinhado à sonoridade dos novos tempos (há quem diga que a Sony pretendia mesmo era transformá-la em estrela sertaneja). Iniciava-se assim inevitável conflito artístico entre intérprete e gravadora. Mas essa é uma outra história...

ouça - Ronnie Foster - produtor, arranjador, tecladista e percussionista do álbum Doce Pecado - em releitura rascante ao órgão Hammond (sua especialidade) de Let´s Stay Together , clássico soul de Al Green gravado para o disco de estreia The Two Headed Freap (1972, Blue Note). Dezesseis anos depois, a canção tornaria-se Vício Fatal e novo hit na voz de Rosanah:



deu no youtube 4 - video montagem de Doce Pecado, com cenas marcantes de Rosanah produzidas no ano de 1991, como o dueto Me Tira Do Rumo com o mexicano Emmanuel no Domingão Do Faustão, e a participação como a vampira Malica em Os Trapalhões (inspirada na novela Vamp, hit daquele ano):



Em tempo - este blog não se responsabiliza por produtos adquiridos de terceiros, o uso do vídeo acima é meramente ilustrativo.

Atualizado em 16/09/11

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